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Foto do escritorJeff Ribeiro

Eco


Quando meu pai estava construindo a sua casa, eu ainda era criança.

Devia ter uns cinco anos.


Me recordo de ir com ele na obra toda semana. Verificar o andamento do projeto e levar materiais que faltavam.  Eu adorava correr pelos montes de areia, sujando as meias, para a tristeza da minha mãe.


Quando a construção já estava avançada, meu pai me levou até um cômodo e disse que aquele seria o meu quarto. Fiquei repetindo baixinho: “Meu quarto” E o eco surpreendeu meus ouvidos.


— Pai, o que é esse som que fica repetindo, parecendo a minha voz?

— É o eco meu filho! Ele acontece porque o quarto está vazio e sobra apenas o som da sua voz aqui.

— E vai ser sempre assim?

— Não! Assim que você colocar suas coisas não ouvirá mais este som.


Eu não entendi muito, mas confiei nele. Ele sempre foi o meu modelo.


Essa história tinha ficado esquecida na minha memória, perdida entre fórmulas de Excel e senhas de redes sociais.


Isso me fez recordar que quando construí minha casa eu entrei no local onde seria o meu quarto e fiz questão de gritar pai, só pra ouvir o eco. Assim como da outra vez.


Meu pai não estava, mas o eco era o mesmo.


Hoje eu estou aqui no mesmo quarto. O quarto de uma casa pronta, que segundo meu pai me ensinou no passado não tem propagação de ruídos. Mas preciso enxugar as lágrimas para dizer que infelizmente ele está errado, que mesmo com as minhas coisas o eco existe.


O eco da falta que ela faz.


Quando eu grito, minha voz bate na mente, no coração vazio. Volta dilacerando feito faca de açougueiro. Eu não imaginei que depois de alguns meses juntos, estaria sentindo tanto a falta de alguém.


Eu nunca disse, mas acho que a amava.


Eu quero, preciso acreditar que essa dor no peito é amor. Só assim consigo explicar essa angústia de ver essa casa vazia. Ecoando saudade.


Me achava desconstruído, com a terapia em dias. Só achava mesmo.


Desconstruído fiquei quando ela se foi, sem saber quem sou. Coitado do Arnold, o nosso gato.


Ele ficou e agora o abraço de cinco em cinco minutos tentando extrair de seus pelos, o pouco do perfume dela que ficou.

Ontem ele até me ranhou o braço. Acho que ele superou melhor que eu a falta dela.

Enquanto escrevo essas linhas vejo o som da porta se abrindo.


É ela que voltou do mercado com os ingredientes da lasanha. Nosso almoço de domingo.


— Oi amor, você demorou.

— Acho que todo mundo teve a mesma ideia que eu. Ir no mesmo mercado, só pode.

— Estava com saudade.

— Mas eu fui ao mercado da rua de trás, não em Tocantins.

— Mesmo assim.

— É sempre assim! Você e seus exageros.

— Eu já disse que te amo?


Dizem que esses exageros é coisa de canceriano, mas não sei se é o signo, acho que é saudade ecoando no peito.


Olhei aqui do lado e vi o telefone tocando. Meu pai.


— Oi filho, você me ligou?

— Liguei, mas não era nada demais.

— Todo domingo é isso, você liga, como se quisesse falar algo urgente e depois desliga.

— É saudade pai.

— Sua mãe diz que isso é coisa do seu signo.

— Mas o senhor diz que não acredita nessas coisas...

— Estou começando a acreditar, desde pequeno você era assim, chorava até quando a gente te levava pra dormir na casa dos seus primos.

— É isso mesmo pai, a mãe está certa.


Tem coisas que não pra explicar. Ou alguns sentimentos são só nossos. Quem sabe?

Mas naquele domingo, a lasanha estava de lamber os dedos.

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