Quando eu era criança a missa de domingo era compromisso obrigatório. Programa familiar!
Me lembro que durante a cerimônia minha mãe se sentava entre mim e minha irmã para evitar que ficássemos rindo durante os sermões do padre Carlos. Nós gostávamos da missa. Mesmo sem entender todo a parte religiosa era divertido ouvir os cânticos, as leituras e o momento em que todos se cumprimentam desejando a paz de Cristo. Tudo era festa e motivo de riso.
Tinha ainda outra parte do rito que nos agradava, era ao fim da missa a pipoca que meu pai comprava em um carrinho estacionado na porta.
Esse hábito se estendeu até o fim de minha adolescência quando já não me sentia confortável pra ir à igreja.
Porém umas das coisas que sempre me marcou durante anos, era o conceito de vida eterna. E nem era por acreditar ou não. Era mais pela questão de que isso me assustava. Pensar que nunca vai ter fim ou ao menos uma pausa. Isso é bem assustador, ainda mais quando se tem treze anos.
Eu refletia se minhas ações eram dignas do céu ou do inferno.
Lembrei de quando escondi o ursinho da minha irmã e de quando na surdina, comi um pedaço de goiabada na dispensa.
A partir de quando o que eu fiz vale? Será que só esse excesso de glicose saboreado escondido já serve de passaporte pro andar de baixo?
E pra sempre! Ah não, nunca mais vou comer doce.
Eu me lembro de quando eu comecei a namorar uma colega de sala. Namoro de colégio, coisa de adolescente. Andar de mãos dadas e dividir salgadinho no recreio.
Ela me perguntou se eu ia amar ela pra sempre. Eu respondi que sim, mas depois que lembrei do sermão do padre Carlos, eu comecei a achar que pra sempre era tempo demais. Nunca mais dividimos nada. Ela disse que eu não sabia o que era amor. E o pior de tudo é que ela estava certa. Quem sabe o que é o amor aos treze anos? Eu acho que até hoje não sei.
Mas sigo tentando...
Se eu soubesse todas as respostas não teria as perguntas que me movem, mesmo que com medo.
O tempo passou, não sou mais aquele menino do recreio de 2003. Hoje com um pouco mais de quilômetros rodados e salgadinhos divididos nos recreios da vida eu sei que quase sempre a sombra dos problemas é maior que eles mesmo.
Que depois do primeiro amor toda dor de cotovelo é conjunta, é compartilhada.
Nunca mais dói só.
Mais com tudo isso eu ainda sei que a ideia da eternidade me assusta. Esse portão rumo ao desconhecido dá um medo tão grande.
E eu que com pouco mais de uma década de vida pensava que gostar de goiabada com queijo fosse o maior de meus problemas.
A inocência vai embora e fica rindo da nossa cara.
Como a vida muda nessa estrada chamada tempo!
E entre incertezas eu admito que lembro com nostalgia dos tempos passados.
Da pipoca na igreja.
E eu que gostava tanto de doce sempre preferia a pipoca salgada.
Quem diria... A vida é mesmo uma piada. E uma piada dessas que só a gente não entende, fica perdido enquanto todos riem a nossa volta.
Que saudade do sermão do padre Carlos. Eu também não entendia muita coisa, mas pelo menos minha irmã ria comigo.
Rir sozinho não tem a menor graça.
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