Uma crônica sobre a morte e a eternidade
Pode ser lido ouvindo o Anjo mais velho do Teatro Mágico
Quando eu era criança ia com meus pais todo domingo na missa. Era uma tradição familiar. Pra mim a parte mais importante da missa era a pipoca que comíamos no fim da celebração. Eu era criança e não entendia a cerimônia.
Até que um dia minha mãe me falou que o sermão era a parte mais importante de toda a missa. Pra mim ainda era a pipoca, mas resolvi prestar mais atenção ao que o padre falava.
Teve um sermão que me marcou muito, onde ele falava da morte e da vida eterna. Ouvir uma fala que descrevia a morte apenas com um rito de passagem me fez pensar pela primeira vez no pós-morte. Era uma reflexão muito pesada para uma criança de oito anos. Eu só preocupava com a hora que passava Cavaleiros do Zodíaco na tevê e em quando minha mãe me chamava pra tomar banho. Agora precisava me preocupar com o que seria de mim depois que eu morrer? Fiquei assustado.
Poucos meses depois a minha avó faleceu e novamente me vi pensando na morte, e se ela iria para o céu ou para o inferno. Novamente tive medo.
Será se eu era digno de ir pro céu depois que morrer? Ou por ter furado duas vezes a fila da merenda no recreio de quarta iria direto ao andar debaixo, na casa do chifrudo?
E desde esse dia eu passei a ver a morte com certo respeito, entender que ela era a ultima fase da vida, tipo aquelas fases com chefão em jogos de videogame. Depois que passou dela zerou e sobem os créditos. Mas a vida não tem botão de reset ou memory card...
É uma só...
Chance única!
Acho que por isso a morte sempre mexeu comigo. Sempre enxerguei esse fim como uma despedida forçada. Até hoje vem aquela sensação de que não teve como dar um último adeus. Não quero que o último diálogo que tive com alguém seja, muçarela ou calabresa?
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