Uma crônica sobre minhas canetas
Quando eu era criança acordava ansioso pelo primeiro dia de aula do ano letivo.
Cadernos novos, materiais arrumados e a vontade de fazer diferente aquele ano.
A promessa de estudar mais, a organização com os cadernos. Escrevia com canetas de cores diferentes e grifava os pontos que achava que cairiam na prova.
Admito que com o tempo o zelo ia diminuindo e lá pra agosto a letra era difícil de ler, tudo agora era escrito sem a mescla de cores do início do semestre.
Geralmente preta, de ponta fina.
Sempre fui fascinado por material de papelaria. Lápis de cor, giz de cera e canetas de múltiplas cores. Amava aquele modelo que tinha quatro cores em uma só.
Mas a caneta de ponta fina sempre foi a minha preferida. Sempre achei que a escrita marcava mais no papel, melhor pra ler, deslizava no papel. Era como se meu traço fizesse drift na folha, dando vida aos exercícios de ciências ou aos textos da aula de literatura.
Eu me lembro de um ano, acho que era a sétima série, em que eu pedi ao meu pai pra comprar duas canetas de ponta fina. Ele me perguntou o porquê de duas da mesma cor e eu disse que era porque queria garantir que se uma se perdesse eu ainda teria outra de estepe.
Ele riu, mas consentiu.
Meu pai adorava esse meu fascínio por papelarias, cadernos e grifar frases nos livros de estudo. Acho que ele sempre achou que eu era um garoto mais inteligente por agir assim, sei lá.
A verdade era que meus cadernos tinham desenhos, geralmente de personagens do Dragon Ball, passwords de jogos do Super Nintendo e qualquer outra coisa da minha infância nerd. Mas ele não sabia disso.
Até hoje minha mesa de trabalho e cheia de cadernos, post-it’s e lápis e canetas variados. No shopping aqui da cidade tem uma papelaria enorme, é quase como uma Disneylândia pra mim. Uma visita ao parque de diversões.
Uma criança de trinta e três anos que se perde entre cores de marca-texto. Me sinto um sommelier de tinta de caneta. “Essa aqui é levemente afinada e com tons de Bic”
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