(Pode ser lido ouvindo Um pouco mais de Fé do Falamansa)

Quando era criança que meu pai amava suco de graviola, enquanto eu me recusava a experimentar, a cor não me agradava, achava leitoso, estranho.
Até que um dia meu pai insistiu tanto que acabei provando. Pra minha surpresa eu gostei e desde esse dia o suco de graviola passou a ser um dos meus preferidos, passei a entender que tem vezes que eu só preciso me abrir ao novo, me permitir ir além de conceitos pré-estabelecidos.
Terminei um relacionamento recentemente, ela não gostava de suco de graviola, mas amava suco de goiaba. E em meio a nossas diferenças achamos o ponto do meio. Até o dia que esse ponto do meio não mais existiu, a corda rompeu e como em um cabo de guerra onde cada um puxa para o lado, caímos assim que a corda se partiu, cada um seguiu seu caminho, levando consigo claro alguns arranhões.
Alguns machucados precisam de mertiolate para cicatrizar, outros de álcool e alguns só do tempo mesmo. Eu tinha escolhido o tempo, talvez o mertiolate fosse melhor, não iria doer e nem arder, mas não sei se tão eficaz.
Já meus amigos acharam que o álcool seria a melhor opção e assim me chamaram para um bar aqui da cidade. Curas etílicas funcionam melhor em ambiente externo, alegaram eles. Eu não queria, estava na fase de ficar em casa, mas eles insistiram, assim como meu pai e o suco de graviola. Não houve jeito. Acabei indo.
Apesar de toda a minha resistência, confesso que foi bom ter ido. A cerveja era gelada, a galera animada e a música não podia ser melhor: forró. Dancei algumas músicas, pisei em alguns pés nas mais animadas, pedi desculpa e disse estar aprendendo agora.
Depois de tantas músicas me senti cansado e um pouco tonto, resolvi tomar algo e me sentar. Quando fui surpreendido por uma ruiva que me puxou pelo braço dizendo: me salva e já me levando novamente para a pista de dança.
“E do que mesmo eu estou lhe salvando?”
“De um chato que não sai do meu pé depois de uma dança.”
Achei a história engraçada, quis saber mais. Mania de escritor eu acho. Fiquei curioso, tanto pela história quanto pela ruiva.
Dançamos as próximas três músicas, de xote a baião, conheci mais da ruiva do que da história em questão.
A música alta dificultava um pouco a conversa, em meio a alguns “O que?” “Não entendi” e “Pode falar mais alto?” aproveitei a proximidade dos corpos aproximei minha boca de seu ouvido e chamei ela pra irmos até o bar, sair de perto da pista de dança, seria melhor pra gente conversar.
Ela aceitou, pediu uma caipirinha pra se refrescar, e eu resolvi beber um suco, de graviola claro. Pois tem momentos da vida que só precisamos nos permitir, provar o novo.
Numa dessas... Quem sabe?
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