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Foto do escritorJeff Ribeiro

BOTÃO DE EMERGÊNCIA


Dia desses vi em um banheiro público de um hospital um botão vermelho e uma placa que me chamaram atenção: “Só aperte o botão em caso de emergência”. Enxerido que sou tive vontade de apertar, mas não apertei, achei que a curiosidade que surgiu era emergência só minha, não do hospital.
Mas fiquei ali pensando em como definir o que é emergência. Quem define? Emergências de banheiro são diferentes de emergências domiciliares? E no hospital? As prioridades mudam?
É que eu sempre fui de questionar, de tentar entender.
Tento muito... consigo pouco.
Mas tento.
Como escritor sigo agarrado as palavras e ao seu poder, acho engraçadas algumas expressões do dia -a - dia. Várias pessoas cruzam comigo pelos corredores da empresa e me perguntam: “Tudo bem?”.
A intenção é boa, sempre é.
E nem é pelo bem, é mais pelo tudo mesmo. Tudo é uma palavra muito complexa, pesada, ela tem por padrão definir um conceito amplo demais. Não sei dizer se está tudo bem. As contas estão pagas, a vida amorosa um mar de rosas, mas o Juninho não está indo muito bem na escola, precisa de aulas de reforço em geografia. Logo geografia, se fosse em matemática eu mesmo ensinava. Aí quando o boletim do filho caçula começa a azular novamente, despedindo se do vermelho que além das notas pintava meu orçamento por conta de tantas aulas particulares inesperadas, vem o carro e começa a fazer um barulhinho chato, daqueles que só o Antônio, meu mecânico de mais de 15 anos sabe resolver. Ou é isso ou é a torneira da cozinha que não para de pingar.
Nunca está tudo bem e tudo bem mesmo assim, porque tudo é uma palavra muito complexa, pesada.
Eu estou bem, apesar do carro, da geografia ou da torneira. E direi que estou mesmo nos dias que eu não estiver. Porque a gente aprendeu a responder tudo bem, assim de bate pronto.
Acho até que se eu falar que não está tudo bem, vão me ver como uma pessoa mau humorada, que só reclama da vida. Viu só? Nunca está tudo bem. É uma emergência, já posso apertar o botão vermelho? Ou devo esperar alguém apertar primeiro pra dizer: “Já estava assim quando eu cheguei?”
Eu me lembro de quando comprei meu primeiro carro e em menos de um mês bateram nele. Um ônibus, na traseira. Destruiu o pobre coitado, meu corsa sedan virou hatch. E eu ali só querendo um botão de emergência, talvez um que voltasse no tempo para me convencer a ir de bike, ou quem sabe nem sair de casa.
Um mês depois o carro estava consertado, e o que foi uma emergência sem botão era agora só um momento ruim que passou.
Sabe aquela frase: “vai dar tudo certo?” Pois é sempre vai, de um jeito ou de outro, com ou sem botão de emergência, mas é que a incerteza que fica no meio é que é o problema, nem deveria ser, mais é.
E o engraçado é que ao cruzar com o porteiro daqui do hospital ele me perguntou se está tudo bem, dei um sorriso meio desconcertado, desviei o olhar e eu respondi que sim. Como eu falo pra ele que apertei o botão de emergência e sai de fininho?
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