Uma Crônica do dia que descobri que te amo
(Pode ser lido ouvindo A vida é boa com você do Bryan Behr)
Quando eu era criança em dias de chuva meu pai juntava a família para jogarmos baralho ou dominó. Nascido no norte de Minas o calor era rotina e dias de chuvas eram tão raros que eu torcia pela chuva, pra poder jogar com a família reunida. Uma vez até tentei aprender a dança da chuva em um gibi da turma da Mônica.
Eu gostava mais de todos juntos, rindo, comendo a torta de frango da minha mãe e tomando guaraná do que do jogo em sí. Direto eu ficava perdido e perguntava: – É a vez de quem? E meu pai repetia sempre a mesma frase: – É sempre a vez de quem pergunta.
Todos ríamos, esses são os momentos que mais sinto falta quando vejo a chuva bater na janela do apartamento.
Já tem quase cinco anos que saí da casa dos meus pais, mas a saudade nunca abranda, quase três décadas de lembranças nunca irão se apagar.
Hoje a vida me deu um presente, alguém para chamar de amor, companheira, ou em alguns momentos só gritar de lá do banheiro: - Amor, traz a toalha que eu esqueci.
E ela irá reclamar que eu esqueci pela décima vez, mas ainda irá me trazer a toalha e me entregar com um beijo apaixonado, contemplativo e taxativo: – Se apresse que já estamos 20 minutos atrasados.
Ela que é meu par, minha companheira, minha parceira, meu número sabe? Tipo aquela camisa que encaixa perfeita ao corpo, que a gente tem dó de colocar na máquina junto das outras, quase que um uniforme. Ela que faz acordar sorrindo ao ver ela com o dedo na boca vestindo minha camiseta do Mickey, ela que faz minha manhã mais feliz com aquele sorriso só porque eu levei o café na cama acompanhado de um post it escrito EU TE AMO.
Ela diz que o verdadeiro eu te amo é o café, a demonstração, a frase é só adorno. Com ela eu aprendi que tem tanta coisa que a gente faz pra demonstrar o quanto queremos alguém do nosso lado que falar “Eu te amo” é quase uma redução do amor.
Um dia em mais uma de nossas noites aleatórias e inusitadas em que estávamos deitados esparramados um sobre o outro falando de tudo e de nada ao mesmo tempo. De Cazuza à Scooby-Doo eu vi que amava ela, que eu não queria estar em outro lugar que não naqueles braços, no alcance daqueles olhos que brilham pro meu miojo com salsicha ou pro meu fricassê. Pra minha bermuda rasgada ou meu terno risca de giz.
A gente funciona assim mesmo, porque sou eu e porque é ela. E isso basta.
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