Uma crônica sobre meus bonecos dos Power Rangers
Eu queria escrever uma crônica sobre relacionamentos, enquanto eu dirigia até o trabalho eu tinha o texto pronto na cabeça, mas é que tipo o download de uma borracha mental apagou todas as minhas ideias e agora estou aqui sem nada.
Bem...
Essas linhas são tudo que tenho.
Quando eu era criança, por volta dos meus seis anos eu tinha uma coleção completa de bonecos dos Power Rangers, daqueles que viravam a cabeça.
Um clássico dos brinquedos da década de 90.
Em cada ocasião meu pai me dava um. Aniversário, dia das crianças, Natal. Teve vezes que ele me deu pra comemorar alguma conquista dele. Quando ganhou um aumento ou quando trocou de carro.
Meu pai gostava de ver o cuidado que eu tinha, aquela coleção era tão dele quanto minha.
Marceneiro desde criança ele até fez um estojo de madeira, bem grande, pra que eu pudesse guardar os bonecos. Hominhos como eu e meus amigos gostávamos de chamar.
Quando nos mudamos de casa alguns deles se perderam e outros se quebraram. Fiquei duplamente triste. Primeiro por ver minha coleção construída por quase dois anos ser diminuída e segundo por saber que com isso eu estava desapontando meu pai. Pois além de brinquedos ele havia me dado a responsabilidade de zelar dos Power Rangers. Eu era como o Zordon, olhando de cima os heróis enquanto brincava com eles.
Pra minha surpresa meu pai não me recriminou. Apenas passou a mão em minha cabeça enquanto eu chorava em frente a caixa de madeira agora mais vazia e me disse que tudo bem, que faz parte da vida. Que mudanças tem mesmo esse poder de desalinhar certas coisas e ressignificar outras tantas. Confesso que não entendi bem suas palavras, mas respirei aliviado por não receber uma reclamação pelos brinquedos.
A minha brincadeira agora era diferente. Eu criava um contexto onde alguns dos heróis foram mortos em uma batalha difícil e os guerreiros sobreviventes lutavam contra todo o mal, compensando a falta dos companheiros.
Eu assistia a série na tevê antes de ir pra escola, mas nas minhas brincadeiras criava um roteiro alternativo. Talvez seja a primeira história que criei, mesmo que nunca a tenha escrito. Se eu fui o roteirista desta história, meu pai foi o diretor.
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