O porteiro do meu prédio, o senhor Antônio e daqueles que chamam todos pelo nome, tem uma memória invejável. Ele diz que ter memória e ser observador são características fundamentais para a sua profissão.
Como ele mesmo me disse que trabalha no prédio a mais de trinta anos eu acho que posso validar a assertividade dessa frase.
Esses dias a Leila estava saindo de casa. Acho que é a terceira ou quarta vez que ela dorme aqui em casa. Quando passamos pelo senhor Antônio ele ficou olhando. Na volta comentou:
“Gostei da garota, acho que agora vai.”
“Como assim Senhor Antônio? Que papo é esse de agora vai?”
“Acha que eu não vejo o entra e sai de mulheres que é o teu apartamento? Mas não se preocupe, isso não é da minha conta. Mas é que eu acho que essa é a certa, agora vai...”
“E porque acha que ela é a certa, posso saber?”
“Você ainda não percebeu que fica rindo sozinho depois que ela vai? Ou que seus olhos brilham quando olha pra ela?”
“Que papo nada haver.”
“Diga o que quiser, diga e repita para si mesmo até se convencer do que já sabe ou quer acreditar. Eu só te falo que esses dias a vi dividindo um serenata de amor com um mendigo aqui da rua. Eu só acho que quem divide chocolate com mendigo merece área vip no coração.”
“É bem a cara dela essas coisas, ela tem o coração enorme, acho que foi isso que me fez apaixonar por ela.”
“Agora você admite?”
“Não é isso, eu gosto dela, mas tenho medo de me apegar e depois não dar certo.”
“Não pense tanto nisso, siga em frente meu filho, ainda vou comer bem-casado na porta da igreja.”
“Calma S.r. Antônio, ainda está no início.”
“E o santo bateu? Porque quando o santo bate o resto é só detalhe e a gente querendo dificultar o que a vida insistiu em facilitar.”
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