Já estava atrasado, se deliciar daquele brownie com chocolate derretendo quase o fez perder o embarque.
Logo ele que é tão organizado com horários e compromissos se viu a menos de dez minutos do fim da entrada na aeronave. Saiu com o passo apressado, esbarrando na multidão e repetindo mentalmente o que lia na tela do celular:
— Portão 14, portão 14... Ali!
Meio atabalhoado como diria seu pai, apresentou o documento, com a alça da mala em uma mão e o livro na outra.
— Ufa! Consegui. — Pensou aliviado depois de se ajeitar. Poltrona 12F, ao lado da janela, com vista pra asa. Não que fosse de tirar fotos da decolagem ou algo assim. Sempre achou essas coisas bregas e cafonas. Escolheu apenas a primeira poltrona que viu disponível no check-in virtual.
Pegou seus fones esperando o início do voo para seguir seu ritual. Sempre que o avião ganhava o céu, colocava a música tema de Star Wars no volume máximo. Era bobagem, ele sabia. Até meio incoerente vindo de quem criticava fotos clichê para o Instagram.
A ponte aérea Rio-São Paulo foi tranquila, ainda mais com o livro de companhia. Quando viu já estava de volta à terra da garoa.
Enquanto todos se amontoavam querendo sair apressadamente, gostava de ser um dos últimos e assim fugir do empurra-empurra, da pressa contagiante na capital paulistana.
Ainda sentado, desafivelou o cinto de segurança e foi chegar seu perfil no Tinder. Quase não se lembrava que tinha o aplicativo instalado e por isso as vezes demorava para responder seus contatos.
Pra sua surpresa, sem mensagens. Decidiu então arrastar alguns contatos para a direita. E não muito depois veio o match com Jenny, estilo aventureira presumiu. Fotos em montanhas e em vários países.
Provavelmente Jenny deveria ser algum apelido, para Jennifer talvez. Viu que estavam, a menos de um quilometro de distância. Foi então que resolver quebrar o silencio.
— Por acaso está no aeroporto?
Logo em seguida veio a resposta:
— Sim. Topa um café?
— Agora?
— Por que não? Não é essa a ideia do aplicativo? Conhecer pessoas?
Ou ver que Jenny estava certa, ele aceitou. Se encontraram em uma dessas franquias de aeroporto, onde o preço da bebida é inflacionado e o pão de queijo murcho. Inclusive esse foi o assunto que usou para quebrar o gelo. Ela que conhecia mais da metade do globo falou que sua frustração com aeroportos ia além de terras brasileiras, compartilhou suas experiências. Ouvia atento, com os braços apoiados no queixo, com o mesmo sorriso de quando ouvia as histórias de seu avô caminhoneiro. Quanto mais ela falava, pensava que nada tinha aproveitado dessa vida. Ele que voltava da praia de Copacabana e do Leblon se sentindo quase um figurante das novelas do Manoel Carlos, depois das histórias dela, de mochilão pela Europa e praias de nudismo nos states se sentiu inexperiente na vida.
O papo fluiu fácil, como deveria ser em primeiros encontros, mesmo que nunca seja. Um café virou dois, que virou uma cerveja e agora ela está com os longos cabelos apoiados em seu corpo nu.
— Está tão gostoso e eu não sei nada sobre você. —Constatou ela.
Ele sorriu e a abraçou sem pressa.
O amor às vezes aparece sem avisar.
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