Uma crônica sobre o medo
Eu sempre achei que óculos fosse coisa de velho, de tiozão que usa sapatênis e tem um Santana 99 estacionado na garagem. Inclusive segui com essa lógica por muito tempo, até o início da faculdade de engenharia quando percebi que tinha dificuldades para enxergar o quadro de uma certa distância, mas permaneci relutante com o meu preconceito com lentes presas a armações.
Em 2015 eu comecei a trabalhar com projeto de óculos e passei a ver este artefato de outra ótica (desculpe o trocadilho, não resisti), conhecer os detalhes e a me apaixonar por ele. Por consequência meu problema de visão estava mais acentuado, visto o fato de que o ignorei por alguns anos. Resolvi finalmente ir ao oftalmologista, dar fim a questão.
No exame o Sr. Cláudio, antigo amigo da minha mãe, me guiou até o aparelho necessário para o procedimento, e à medida que ia mudando as lentes e me perguntando qual ficava melhor, eu tinha diferentes percepções do mesmo espaço. Em um minuto eu vi aquele lugar de diferentes formas, do mais nítido ao mais distorcido.
E saí de lá vendo o mundo diferente, sem o borrão que eu havia me acostumado, que achava normal.
Engraçado é que me lembro de escolher minhas armações, a cor, o modelo o formato.
Já que eu trabalhava com isso eu queria o modelo mais descolado. Consegui!
Uma armação fininha, tom café com um aplique metálico na haste, inclusive foi lá que eu aprendi que o nome certo é haste e não perna como muitos chamam, mas isso já outra história.
A história que quero contar é de como a gente passa tanto tempo olhando para o borrão que se esquece como é verdadeiramente a paisagem. Passa tanto tempo com a janela suja que quando limpa o vidro não consegue entender como ficou encarando aquela imagem distorcida e cachando que aquilo era o belo.
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