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Foto do escritorJeff Ribeiro

COMO DIZIA MINHA AVÓ


Minha vó tinha o hábito de falar que coisas boas surgem do nada. Eu sempre achei que isso fosse só mais uma daquelas frases de efeito que toda pessoa de mais idade tem na manga pra situações oportunas.


Mas a vida me mostrou a sabedoria dessas palavras.


Meu melhor amigo foi alguém que eu conheci na adolescência, mas só no início da vida adulta é que essa amizade se tornou de fato algo sólido.


E nos dois nunca conseguimos definir esse ponto de transição.


Por isso lembrei na minha avó: coisas boas surgem assim do nada. Com mais de quinze anos de amizade saber onde foi que começou deixou de ter importância.


Não tinha como lembrar, não depois de tantas coisas que povoavam a mente.


O dia que encaramos uma garota na festa. Que meses depois virou sua primeira namorada. Quando passou no vestibular e raspamos seu cabelo em comemoração. Ou quando eu recebi a minha primeira promoção e ele foi o primeiro para quem contei.


Na verdade, existem mais umas mil dessas recordações que só não coloco aqui pois iriam apenas preencher espaço no papel. Pra saber dessa intensidade só tendo passado por tudo o que vivemos. Penso que esse sentimento é só nosso.


Mas é que esse texto é sobre perda, mas não uma perda gostosa como das inúmeras vezes que perdemos a noção do tempo em nossas prosas despretensiosas. É sobre a perda dessa amizade, é sobre como fiquei perdido nos últimos meses.


Da mesma forma que coisas boas acontecem do nada como bem aprendi com a minha avó, coisas ruins ou quem sabe desalinhamentos também ocorrem.


No início do ano eu fui visitá-lo na cidade onde mora, nessa visita percebemos que os anos e as experiências nos mudaram muito. Eu não diria que nos afastaram, afinal de contas nos dezesseis anos dessa amizade mais da metade foi a distância.


Mudamos é realmente a melhor escolha de palavras.


Em todas as nossas conversas por telefone ou áudios que mais pareciam podcasts no WhatsApp não nos demos conta. Precisou a presença impor o que não percebemos ou talvez não quiséssemos ver.


Esse pensar diferente trouxe um choque maior do que o esperado, acabamos brigando. Não foi uma briga física, foi um choque de ideias, de valores.


Não teve como.


As palavras doeram, mesmo que viessem acompanhadas apenas de verdades. Sem ofensas. Mas é que dói perceber que essa diferença fez uma amizade ser rebaixada.


Hoje ele é um conhecido, não frequenta mais o grupo dos amigos.


O posto está vago. Sinto inclusive que este posto ficará aberto por muito tempo. Difícil construir amizades sólidas depois dos trinta. Ainda mais quando se está longe de casa. Quando a vida leva para outros lugares geográficos, fica cada vez mais difícil estabelecer vínculos.


Sempre fui aberto a conhecer novas pessoas, mas acho que amizade de fato não é algo que se encontre em cada esquina.

Todo dia olho pra sua foto na rede social que antes tanto conversávamos. Pensando se talvez exista remédio pra nós.


Afinal de contas, como dizia minha avó...


Coisas boas surgem assim do nada.

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