Era dia de faxina, acordou às 6h, ligou o rádio. Jorge e Mateus cantavam ao fundo.
Ele nem era fã de sertanejo, mas é que ouvir essas músicas o fazia lembrar de
sua ex.
Tem lembranças que quanto mais precisamos esquecer, mais voltam à mente.
Recordou de um dia caminhando juntos no parque que ela cantava baixinho uma música que dizia:
Todo mundo tem uma pessoa...
Não tirar ela da cabeça fazia ele pensar que ela podia ser a dele, vai saber...
Hoje eles não caminham mais juntos e o coração insiste em trazer lembranças antigas ao novo lar, tatuagens na alma.
Relacionamentos passam e deixam suas cicatrizes.
A dele tinha nome, sobrenome e uma pinta no canto do lábio superior. Ele sorriu em lembrar e continuou. Arrastou o sofá, organizou caixas e varreu o chão pra tirar o pelo do gato. Era tanto pelo que dava pra fazer outro gato.
Duas horas, um sorriso de canto de boca lembrando daquela pinta matadora e uma lágrima escorrida depois... Finalmente o apartamento estava limpo!
Se lembrou de um texto que leu uma vez que dizia que no último dia da vida, a gente de alguma forma zera tudo e diferente de um jogo de videogame não tem save ou checkpoint.
Não dá pra voltar e dizer “eu te amo” pra mãe. “Adorei sua massagem” pra namorada ou mesmo comer o último bolinho de chuva com a avó. Sentiu que era bom estar ali e sorriu. A última vez que um sorriso desse o visitou, esse sorriso de mostrar todos os dentes foi quando ganhou um bonequinho dos Power Rangers, daqueles que vira a cabeça. No Natal de 1996.
Era o fim de um ciclo, ou começo de outro. Quem sabe?
Ficou rindo sozinho lembrando de como tudo começou...
A primeira imagem que tive de ti foi com batom vermelho e aquele olhar de mulher fatal. Talvez seja só seu olhar mesmo, mas já me peguei imaginando que és dona de uma personalidade forte, decidida. Que coloca o feijão por cima do arroz, não gosta de perfumes doces, prefere café forte e que ainda assiste comédias românticas mesmo achando alguns finais exageradamente melosos.
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