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Foto do escritorJeff Ribeiro

MORDE E ASSOPRA

Atualizado: 19 de fev. de 2023


A soma daquele sorriso e dos olhos saltados deixavam ele bobo.

Ela percebeu e começou a se fazer de difícil.
Demorava responder, deixava ele no vácuo. Respondia só no outro dia e assim seguiam nesse game de morde e assopra.
Pra ele game e assopra na mesma frase só quando jogava seu nintendinho e soprava as fitas velhas pra elas voltarem a funcionar. Quem dera na vida tudo fosse tão simples.
Mas com quase um mês Fábio acabou se cansando, Thaís mexia com ele, ele gostava da companhia da garota. Mas é que o rapaz já tinha se cansado desses joguinhos de conquista.
Pra ele era óbvio querer demonstrar que gosta da companhia, do beijo, da conversa. Por que tem que esperar no mínimo doze horas antes de responder?
Avisa quando chegar não pode. É coisa de namorado.
Esse papo de que não pode demonstrar interesse no início não colava mais com ele. Até quanto tempo é início? Quando já pode pegar na mão? Desistiu de mandar mensagem.
Thais sentiu falta, tentando se fazer difícil...
Difícil mesmo foi não ter mais os papos com Fábio. Resolveu ignorar os conselhos das amigas. Afinal, o que elas entendem de amor? Estão todas solteiras, trocando de namorados como trocam de copos de bebida na balada.

Engoliu o orgulho com duas latinhas de Bohemia e mandou mensagem.
“Olá, sumido, tudo bem contigo?”
Ela mandou o diálogo mais batido. Ele respondeu rápido, estava com o celular na mão. Só não tinha muita empolgação.
“Oi, tudo bem sim” Respondeu sem render assunto.
Ela chamou pra irem no novo bar que abriu e era modinha na cidade, ele recusou.
Não sabia qual seria o jogo dessa vez. Escolheu jogar Imagem e Ação com os amigos. Esse jogo pelo menos ele conhecia as regras. Era ruim de mímica, mas era bom de adivinhação. Quem nunca jogou com alguém que não sabe fazer mímica, mas consegue decifrar a do outro em segundos?
Ela ficou sem entender a reação dele, achava normal esse tipo de abordagem. Sempre dava certo, ninguém nunca havia lhe dito um não.
Já nem sabia mais ser ela mesma, se perdeu em fórmulas que viu na internet de como fazer ele ficar encantado, apaixonado, mas no fim era só passado.
“Nunca mais faço joguinhos.” Pensou, lamentou... Até chorou
Não queria perder um papo legal. Mas por sorte não precisou.
Fábio ficou pensando se sua recusa não era orgulho, ou vingancinha, bateu arrependimento. É que na vida não é assim tão fácil apagar sentimento.
Na época de escola a borracha era vermelha e azul. O lado vermelho paga lápis e o azul caneta. Apagar sentimento é coisa complexa, falta ferramenta, sobra vontade...
A última coisa que ele guardava em seu coração, era ressentimento.
Uns 45 minutos depois ligou de volta. Engoliu o amargor do peito, assim sem nem uma latinha de cerveja ou copo de uísque.
“O convite ainda está de pé?”
Estava...
Já fazem uns seis meses, o bar deixou de ser modinha, ainda assim eles continuam indo lá, quase todo fim de semana. Tem dias que bebem em casa, tem dias que nem bebem, ficam só comendo besteira largados no sofá.
Quanto aos joguinhos? Bem... Hoje o jogo deles é outro: Playstation aos domingos ou no Imagem e Ação quando os amigos vêm visitar.
Quem diria!

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