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Foto do escritorJeff Ribeiro

PRIMEIRO DIA DE AULA

Uma crônica sobre ansiedade





Sou apaixonado com o gosto de novas fases se iniciando. O gosto de descoberta que fica quando do outro lado da porta tudo é desconhecido.

No meu primeiro dia de aula no prezinho eu estava ansioso e apreensivo, ansioso por tudo que meus pais falaram que seria, brincadeiras com tinta guache e massinha. E apreensivo por saber se seria mesmo assim ou eu estava vivendo previamente a experiência pelas vistas dos meus pais.



Ainda nos tempos de escola, maior um pouco ansiava pela quinta série, o antigo ginásio. Onde teríamos um professor pra cada matéria, e com isso o medo: "Terei dez vezes mais dever?"

Houve ainda o primeiro beijo, primeiro emprego, primeiro encontro e tantos primeiros que hoje são apenas rotina, e eu nem me dei conta.

Estou falando de início de ciclos e recordando as inúmeras lembranças e sensações. Algumas ficaram perdidas no baú da saudade.

Me sinto perdido entre momentos, conceitos e sensações. Sabe essa necessidade de viver a vida projetando tudo querendo viver o próximo momento?

Me sinto assim e entre próximos tenho medo de perder o hoje, o agora. Perder o presente e ver a vida escorrer entre compromissos da agenda, pelos riscos e rabiscos no calendário.

Queria saber por que é tão difícil esse estar presente, esse movimento de se manter no presente sem tirar os olhos do futuro e sem ser escravo dele.

Já estou cansado de corpos tatuados Carpen Diem, ou mesmo coach's com promessas de fórmulas pra gerir melhor o tempo.

Acho que não é sobre isso, é sobre aceitar que o mundo mudou.

Meu pai ia pra escola de jegue, nossa primeira viagem pra praia foi usando o guia Michelin. Eu ia pra escola de bicicleta e sempre viajo com o auxílio do Waze ou Maps. Meu filho vai pra escola de patinete e acha que comprar carro é bobagem quando se pode pedir um Uber a qualquer momento.

Dia desses eu fui tirar um breve cochilo depois do almoço e acordei no fim da tarde. O corpo cobrou o cansaço de dias, de toda essa "correria". Acordei meio zonzo, desnorteado. Sabe quando você dorme tanto que acorda e perde a referência de tempo e espaço? Acordei assim.
E me bateu uma angústia sem motivo. Bem, sem motivo não era, eu é quem não consegui identificar, e assim fiquei ali uns cinco minutos olhando pro teto branco, pra luz fria, me sentindo mais vazio que o quarto.

Escrevo este texto como um desabafo, em meio a uma crise de ansiedade, tentando encaixar o futuro aqui no presente, minhas projeções dentro de minha realidade. Queria que alguém inventasse um Waze para os caminhos da vida, mas sei lá de novo acho que é só ansiedade, medo ou a mistura dos dois.

Eu nunca fui bom em misturar, uma vez misturei vodca, tequila e uísque e depois do terceiro copo não me lembro de mais nada, mas acho que aqui a mistura é outra, falo de emoções e sentimentos, como se fosse possível controlar, mas a gente tenta né?
E entre tentativas, sejam elas emocionais ou alcoólicas vamos ganhando experiência, vivência e umas boas histórias.

É que acho que já tenho história demais, já posso parar, mas é que eu não sei onde aperta o freio. Nem sei se é possível ou se é isso mesmo que quero.

Sabe de uma coisa, esquece tudo que eu disse, fica só com a parte do meu primeiro dia de aula. Afinal de contas já brincou com massinha e tinta guache?

Não tem nada melhor, ainda mais quando se tem apenas cinco anos e nenhum boleto surfando por debaixo da porta.
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