Uma crônica sobre ansiedade
Sou apaixonado com o gosto de novas fases se iniciando. O gosto de descoberta que fica quando do outro lado da porta tudo é desconhecido.
No meu primeiro dia de aula no prezinho eu estava ansioso e apreensivo, ansioso por tudo que meus pais falaram que seria, brincadeiras com tinta guache e massinha. E apreensivo por saber se seria mesmo assim ou eu estava vivendo previamente a experiência pelas vistas dos meus pais.
Ainda nos tempos de escola, maior um pouco ansiava pela quinta série, o antigo ginásio. Onde teríamos um professor pra cada matéria, e com isso o medo: "Terei dez vezes mais dever?"
Houve ainda o primeiro beijo, primeiro emprego, primeiro encontro e tantos primeiros que hoje são apenas rotina, e eu nem me dei conta.
Estou falando de início de ciclos e recordando as inúmeras lembranças e sensações. Algumas ficaram perdidas no baú da saudade.
Me sinto perdido entre momentos, conceitos e sensações. Sabe essa necessidade de viver a vida projetando tudo querendo viver o próximo momento?
Me sinto assim e entre próximos tenho medo de perder o hoje, o agora. Perder o presente e ver a vida escorrer entre compromissos da agenda, pelos riscos e rabiscos no calendário.
Queria saber por que é tão difícil esse estar presente, esse movimento de se manter no presente sem tirar os olhos do futuro e sem ser escravo dele.
Já estou cansado de corpos tatuados Carpen Diem, ou mesmo coach's com promessas de fórmulas pra gerir melhor o tempo.
Acho que não é sobre isso, é sobre aceitar que o mundo mudou.
Meu pai ia pra escola de jegue, nossa primeira viagem pra praia foi usando o guia Michelin. Eu ia pra escola de bicicleta e sempre viajo com o auxílio do Waze ou Maps. Meu filho vai pra escola de patinete e acha que comprar carro é bobagem quando se pode pedir um Uber a qualquer momento.
Dia desses eu fui tirar um breve cochilo depois do almoço e acordei no fim da tarde. O corpo cobrou o cansaço de dias, de toda essa "correria". Acordei meio zonzo, desnorteado. Sabe quando você dorme tanto que acorda e perde a referência de tempo e espaço? Acordei assim.
E me bateu uma angústia sem motivo. Bem, sem motivo não era, eu é quem não consegui identificar, e assim fiquei ali uns cinco minutos olhando pro teto branco, pra luz fria, me sentindo mais vazio que o quarto.
Escrevo este texto como um desabafo, em meio a uma crise de ansiedade, tentando encaixar o futuro aqui no presente, minhas projeções dentro de minha realidade. Queria que alguém inventasse um Waze para os caminhos da vida, mas sei lá de novo acho que é só ansiedade, medo ou a mistura dos dois.
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